O Francisco tem 35 anos e é jardineiro. A Lurdes tem 40 e é rececionista numa empresa de cosmética. O Tomás tem 26 anos e é funcionário de uma IPSS, onde faz manutenção de equipamentos e outros serviços gerais. O Francisco, a Lurdes e o Tomás têm deficiência. O Francisco tem um défice intelectual que o faz trabalhar de forma mais lenta e precisar da supervisão constante do seu coordenador. É o funcionário da empresa que melhor cuida dos malmequeres e amores-perfeitos, sabendo como ninguém como os fazer crescer bonitos.
A Lurdes foi diagnosticada com uma doença mental. Tirou um curso superior em gestão de empresas e os sintomas da doença começaram a surgir nessa altura, tendo-se agravado ao longo do tempo. É organizada, responsável e gosta do contacto direto com os clientes. O Tomás teve uma infância complicada, com violência no seio familiar. Isto levou a que crescesse com vulnerabilidades emocionais evidentes que, aos 13 anos, o levaram a consumir drogas. Deixou os consumos aos 18 anos, após um período difícil de desintoxicação total. Fez formação numa entidade acreditada para tal e, depois disso, ingressou nesta IPSS. O Tomás é eficaz a resolver as avarias que aparecem e mantém a instituição muito bem cuidada. Serão o Francisco, a Lurdes e o Tomás o espelho da sociedade que atualmente temos? Será que a nossa sociedade é assim tão acolhedora e inclusiva, de forma a proporcionar emprego a pessoas com incapacidade ou deficiência? A resposta? Ainda não! Querem saber a melhor parte da resposta? É que para lá caminhamos, a passos largos. O Francisco, a Lurdes e o Tomás são casos figurativos baseados em histórias reais. Enquanto cidadãos de pleno direito as pessoas com deficiência e incapacidade têm a possibilidade e a vontade de contribuir para a sociedade a que pertencemos. Em pé de igualdade com os cidadãos sem deficiência pretendem colocar as suas capacidades ao serviço dos outros. Infelizmente ainda existe muito estigma à volta deste tema e é necessário abrir mentalidades e transformar pensamentos para que cada pessoa (deficiente ou não) seja vista como única e capaz, nas suas limitações (que todos nós, seres humanos, temos) e nos seus potenciais. Claro que a integração no mercado de trabalho só acontece quando estão reunidas as condições para tal. Dando um exemplo um pouco extremo, uma pessoa com profunda deficiência mental e física, dependente dos outros para tarefas básicas como a alimentação e higiene não conseguiria trabalhar e não é por isso que tem menos valor enquanto ser humano. Mas… como é que ocorre esta integração de pessoas com deficiência e incapacidade em formação ou mercado de trabalho? Atualmente existem medidas, nomeadamente do Instituto de Emprego e Formação Profissional, que conferem apoios às pessoas com deficiência e incapacidade e incentivos às empresas que recebem estes funcionários. Estas medidas visam assim apoiar a qualificação e o emprego das pessoas com deficiência e incapacidade que têm dificuldade em aceder, manter e progredir no emprego. (Para mais informações consultar https://www.iefp.pt/reabilitacao-profissional) É urgente caminhar para uma consciência coletiva de inclusão, olhando para cada pessoa como um ser humano único e irrepetível, com fraquezas e forças, com desejos e sonhos, com uma vida a construir e com o objetivo de contribuir para tornar ligeiramente melhor o pedaço de mundo onde está. E eu, tenho consciência inclusiva? Publicado no Jornal de Mafra
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AutorSou a Filipa Marques, psicóloga de formação e de paixão. Archives
November 2021
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