O Rodrigo começa amanhã as férias escolares. Espera ansiosamente o verão. Os dias no A.T.L., as brincadeiras com os amigos, as idas à praia com os pais e o tempo bem passado a jogar à bola em casa dos avós. O Rodrigo tem 8 anos, gosta de jogar futebol, de ir aos aniversários dos amigos, de ler livros de banda desenhada e também gosta da escola. Mas, nos últimos meses, tem chegado ao fim do dia com um cansaço extremo, que se faz notar nas birras intermináveis para fazer os trabalhos de casa. É que já passou um ano de aprendizagens, de esforço, de dias inteiros sentado numa secretária e de atividades extracurriculares. Foi muito o que cresceu neste ano e muito o que aprendeu com todas as suas vivências! Mas, no meio disto tudo, quanto tempo teve para brincar livremente? A brincadeira é uma peça chave no desenvolvimento infantil. Por isso, de uma forma lúdica e leve, brincar torna-se algo muito sério! É uma maneira da criança aprender, adquirir e melhorar as suas capacidades intelectuais, físicas e sociais. Vejamos exemplos: quando salta à corda, a criança desenvolve a capacidade motora; quando brinca com legos desenvolve a criatividade, concentração e o raciocínio lógico; quando brinca aos pais e mães desenvolve as competências sociais.
Brincar ajuda a estruturar a personalidade e prepara a criança para futuras atividades, como por exemplo o trabalho, uma vez que fá-la desenvolver a atenção e concentração naquilo que está a fazer, estimula a autoestima e permite-a treinar as competências sociais, porque aprende a relacionar-se com os outros. Para além disso, a criança coloca-se genuinamente na brincadeira que realiza e, assim, brincar torna-se um espelho da forma como vê o mundo e como age sobre ele. Por este motivo, a brincadeira é uma arma terapêutica essencial na Psicologia quando se fala em intervenção com crianças. Brincar permite conhecer intimamente cada criança e chegar até ela. É uma via extremamente poderosa quando o psicólogo consegue entrar no mundo da criança para, de seguida, reforçar os comportamentos positivos e ensinar ou modificar os comportamentos que se pretendem adquirir ou alterar. «Como é que colocamos o(a) nosso(a) filho(a) a brincar se ele(a) só quer jogar tablet e ver vídeos no Youtube?» - perguntam-se os pais ao ler este artigo. Pois é queridos pais, por muito que me custe dizer isto: não há receitas! Em primeiro lugar devem considerar que estes momentos também podem ser preciosos meios de aprendizagem. Só que, como numa receita em que tudo é saboroso se for q.b., assim também nós devemos dosear a quantidade de tempo e a qualidade das atividades que as nossas crianças estão a usar com a tecnologia. Depois, se queremos que eles reduzam o seu tempo de utilização ofereçam-se para brincar com eles ou sugiram-lhes ir brincar para a rua ou com os brinquedos lá de casa – “dá trabalho”, bem sei! Mas, pouco se consegue sem esforço, certo? Desafio-vos a pensar quanto tempo, num dia normal de aulas, as vossas crianças brincam livremente. Agora, reflitam: é necessário reajustar a rotina para lhe dar mais uns minutos de brincadeira? Publicado no Jornal de Mafra
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AutorSou a Filipa Marques, psicóloga de formação e de paixão. Archives
November 2021
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