Falar de depressão é abordar um tema (infelizmente) muito presente nas nossas vidas. Muitos de nós já passamos ou estamos a passar por um episódio depressivo ou conhecemos alguém que se debate com a depressão. Mas, o que é afinal a depressão e porque é que tanto nos afeta? A depressão é uma perturbação do humor que interfere na capacidade da pessoa funcionar no dia a dia e apreciar os aspetos positivos da vida. Caracteriza-se pela presença de humor deprimido ou irritável (ex. tristeza, irritação) e/ou ausência de afeto positivo (ex. falta de vontade, apatia).
Os episódios depressivos podem manifestar-se através de um vasto conjunto de sintomas. Quais? Choro fácil, isolamento, dores relacionadas com tensão muscular ou agravamento de outras dores pré-existentes, alterações no apetite e nos padrões de sono, fadiga, falta de líbido, lentificação psicomotora, perda de interesse pelas atividades diárias, tentativas de automutilação e de suicídio. Podem estar presentes ainda sintomas cognitivos como dificuldades de atenção, concentração e memória, pensamentos negativos (sobre o passado e futuro ou sobre si próprio), pessimismo e ideias de morte. Do ponto de vista afetivo podemos ter sentimentos de inutilidade, culpa, desvalorização e desamparo, impotência e desespero, baixa autoestima e falta de confiança. Para ser considerado um episódio depressivo e não uma reação normal a uma fase “mais em baixo”, estes sintomas devem persistir durante, pelo menos, duas semanas. A depressão pode afetar-nos em qualquer altura da vida. As suas causas são muito diversas, nomeadamente acontecimentos marcantes tais como o desemprego, o divórcio, a morte de um amigo ou familiar, o período pós-parto, a reforma da vida profissional ou muitas outras. Poderá também existir uma propensão genética para a depressão. Uma depressão pode conduzir a situações graves em que a dificuldade de lidar com os eventos (negativos) de vida gera sentimentos, pensamentos e comportamentos extremos, como a incapacidade para o trabalho ou até o suicídio. É preocupante perceber que a depressão afeta, ao longo da vida, cerca de dois em cada dez portugueses. A medicação é o principal tratamento escolhido em Portugal, o que nos coloca como um dos países do mundo com maior consumo de antidepressivos. Cerca de metade das pessoas que têm um episódio de depressão recuperam e não voltam a tê-lo, no entanto o risco de reincidência é muito elevado se não existir tratamento. É necessário tratar! O tratamento requer, em geral, uma abordagem multidisciplinar com acompanhamento psicológico (por vezes suficiente em casos de depressão ligeira), associado a acompanhamento médico e tratamento farmacológico. Na maior parte das vezes não chega tomar medicação, pois não resolvemos os problemas de fundo. Mas, se para além de ir à raiz dos problemas, for necessária a medicação como auxílio numa fase crítica, então deve ser tomada de acordo com a prescrição do médico especializado em questões de saúde mental – o psiquiatra. Do ponto de vista da psicologia, o início do tratamento de uma depressão passa muitas vezes pela ativação comportamental. Isto é, mesmo sem vontade ou energia é necessário que a pessoa mantenha as suas tarefas de vida diária e que tente fazer atividades que lhe dão satisfação, ainda que no momento não a sinta. Mas, isto é apenas a ponta do icebergue – é necessário ir à raiz da questão, perceber o porquê de nos sentirmos deprimidos e agir, pelo nosso bem-estar! Do ponto de vista farmacológico, o tratamento de uma depressão é sempre prolongado, podendo, no caso de um primeiro episódio, estender-se por seis meses ou mais. Se existirem novos episódios depressivos pode ser necessário ainda mais tempo. A escolha do antidepressivo é feita em função do quadro depressivo e da condição clínica da pessoa. Os antidepressivos demoram a atuar: nas primeiras semanas pode não se sentir qualquer evolução, mas não se deve suspender a toma – podem ser necessárias oito semanas para iniciarem o seu efeito. Quando o tratamento está completo e a pessoa já não tem sintomas, inicia-se uma redução progressiva da dose, aquilo que é designado como desmame. É natural que nessa altura a pessoa já se sinta bem, mas importa manter o tratamento até ao fim, para não haver risco de recaída. Os efeitos secundários diferem de pessoa para pessoa e dependem do medicamento. Tendem a manifestar-se no início do tratamento e a desaparecer com a continuidade. Mas, se forem demasiado graves, deve-se falar com o médico para ajustar a dose ou para optar por outro medicamento. O farmacêutico pode ajudar a identificar os efeitos secundários mais comuns e como contorná-los:
Negar a depressão é escolher viver em sofrimento. É importante reconhecer os sinais e procurar ajuda. É importante escolher viver bem, com saúde psicológica. Com o apoio da família e dos amigos, a orientação do psicólogo e/ou do médico especialista e do farmacêutico o caminho é mais fácil de trilhar e poderá recuperar a alegria de viver. Filipa Marques (Psicóloga Clínica) e Tiago Oliveira (Farmacêutico)
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AutorSou a Filipa Marques, psicóloga de formação e de paixão. Archives
November 2021
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