Portugal é um dos países com a maior taxa de consumo de álcool por pessoa a nível mundial e europeu. Muitos de nós consumimos álcool em circunstâncias de convívio, momentos de descontração, eventos comemorativos ou até mesmo tomando um copo de vinho a acompanhar as refeições. Não existe nisso problema. O problema surge quando o consumo de álcool ganha proporções excessivas, em quantidade ou em frequência.
Mas, como é que sei se o meu consumo de álcool é de risco? Não existem respostas lineares, porque o risco associado ao nosso consumo está ligado a diversas variáveis, nomeadamente o género e idade. Por exemplo, na adolescência o consumo de álcool está associado a danos cerebrais com implicações na aprendizagem, na atenção, na memória, na tomada de decisão e no próprio desenvolvimento intelectual. Há, no entanto, uma tipologia da Organização Mundial de Saúde (OMS) que nos pode ajudar a perceber em que padrão de consumo nos enquadramos neste momento. De acordo com a OMS, o consumo de álcool enquadra-se num contínuo que vai desde a abstinência até à dependência. A abstinência é a ausência de consumo de álcool. O consumo de baixo risco é o tipo de consumo ligado a uma baixa ocorrência de problemas de saúde e de consequências sociais. Geralmente quem se encontra neste padrão não consome álcool todos os dias e, quando consome, fá-lo de forma repartida nas várias refeições do dia, consumindo por norma até 2 unidades de bebida por dia. O consumo de risco é, por norma, um consumo ocasional ou contínuo que, quando persiste, aumenta a probabilidade de consequências negativas para o consumidor, por exemplo a nível da saúde física. Usualmente quem se enquadra neste padrão consome 4 a 6 unidades de bebida por dia. O consumo nocivo é o tipo de consumo que já pode trazer consequências prejudiciais para a saúde, tanto a nível físico como mental e pode também estar ligado a problemas sociais. Corresponde, na generalidade, ao consumo de mais de 6 unidades de bebida por dia. Por último, a dependência pode desenvolver-se após o consumo repetido de álcool e está associada a um conjunto de ocorrências fisiológicas, cognitivas e de comportamento. Concretamente, a dependência está ligada a um desejo forte de consumir álcool, ao descontrolo sobre a quantidade ou frequência daquilo que se bebe, à continuidade do consumo independentemente das consequências e à priorização dos consumos sobre outras atividades ou responsabilidades. Para além disso, podem estar presentes sintomas de privação quando não há consumo de álcool. Com a apresentação destas tipologias não pretendo pensamentos alarmistas ou que nos coloquemos dentro de uma categoria fixa, pois em diferentes momentos da nossa vida enquadramo-nos em diferentes padrões de consumo. Pretendo, acima de tudo, gerar reflexão sobre os nossos comportamentos ligados ao álcool. Pretendo também fazer um apelo para que, se alguém se encontrar num nível de consumo que perceba ser de elevado risco ou até de dependência, tome disso consciência e procure um profissional. O mesmo afirmo para quem tenha um consumo de baixo risco mas que o facto de beber esteja ligado à necessidade de uma sensação de bem-estar, desinibição ou a um escape para algum tipo de problema familiar, de trabalho, financeiro ou até de autoestima. Publicado no Jornal de Mafra
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AutorSou a Filipa Marques, psicóloga de formação e de paixão. Archives
November 2021
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